Descrição
O propósito nesta coletânea é pensar, sob diferentes perspectivas, as mútuas determinações e tensões que estão implicadas nos conceitos de identidade e de diferença, analisados como par relacional inseparável, os quais são problematizados como resultantes dos processos sociais e culturais historicamente produzidos.
A opção pelo uso da conjunção “ou” no título, produzindo a disjunção entre os termos identidade e diferença, funciona, obviamente, como provocação que expressa dúvida e incerteza que desafiam os autores a pensarem as implicações que os termos comportam. Implicações que, vale ressaltar, podem significar num sentido mais amplo o que se depreende, o que está subtendido e quais são as consequências que decorrem desta intrincada relação entre esses conceitos que não é de mera oposição.
O desafio consiste em tratar a identidade e a diferença como processos que se determinam. Nesse sentido a identidade não constitui a norma a partir da qual se julga, avalia e define o que não cabe na representação identitária. O desafio reside, portanto, em pensar a diferença em sua radicalidade sem submetê-la e circunscrevê-la no limite da configuração identitária que funciona como poderoso expediente para a produção da ideia de uma comunidade totalizadora, que com seus cálculos define quem está dentro e quem está fora, quem pertence e quem não pertence, quem atende e quem não atende aos parâmetros da tão sonhada comunidade.
É contra a persistência do ideal de comunidade perdida que deve ser reencontrado um novo sentido para o viver juntos, pois foi em nome da comunidade ideal e do desejo de fusão unitária que se produziu ao longo da história os excluídos, aqueles que por alguma razão não se enquadravam nos padrões eleitos de pureza étnica, política ou moral. Nesta nova configuração o singular é irredutível a qualquer identidade pela sua dissimetria, pela outridade que ele porta, que nos tornam tão parecidos, mas de modos inteiramente diferentes. Essa dissimetria, esse lapso, esse entre, é o que pode nos arrancar da nossa identidade centrada que nos isola de qualquer exterioridade.
O desejo de reestabelecer o sonho da comunidade perdida aparece nos discursos e práticas políticas contemporâneas, os quais advogam, em nome de forças conservadoras e autoritárias, o fim da orientação sexual dissidente, das diferenças étnico-raciais, das diferenças político-ideológicas, no afã de se restaurar uma ordem perdida. A comunidade pensada nestes termos nega o sentido de comunidade como espaço do cultivo da heterogeneidade, da pluralidade e de uma proximidade a distância, que funciona como instância que pode barrar os totalitarismos.
De toda maneira, esta ainda é uma visão de comunidade distante de nós, sobre a qual temos muito o que aprender e a favor da qual muitas lutas ainda terão que ser travadas.