Descrição
Nesta peleja serão analisadas trinta e três crônicas futebolísticas de Nelson Rodrigues publicadas no Manchete Esportiva e n´O Globo, nas décadas de 1950 e 1960.
O autor faz uma tabelinha com o cronista para acompanhar a elaboração de um modelo de identidade para o “homem brasileiro” calcado na figura de ídolos negros. André Vitor Brandão Kfuri Borba chega na área para analisar como as imagens dos “Heróis brasileiros em campo” evoluem em espaços e contextos onde as glórias são efêmeras e tudo ocorre de maneira muito transitória: o futebol e o carnaval. Tais imagens, em constante transformação e, portanto, inacabadas, constituem-se uma espécie de síntese da discussão em torno da indefinida questão racial brasileira.
Ao construir uma imagem do negro transmudado em herói, autor de “feitos coletivos”, e por isso mesmo de fácil aceitação popular, o cronista compartilha estrategicamente com o leitor o mesmo “horizonte de expectativas” circunscrito numa época em que o mito da democracia racial de Gilberto Freyre começava a ser questionado.
No plano literário, a exaltação do craque negro ajuda a desinstalar do imaginário coletivo o estigma que foi se formando em torno do mulato e do mestiço nas décadas anteriores. Esse sentimento preparou sua “aceitação”, promovendo sua “apoteótica” ascensão social e viabilizando sua afirmação moral no imenso e indefinido amálgama de etnias e culturas que compõem o Brasil.