O filósofo francês Edgar Morin em São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Edgar Morin fala sobre natureza, arte e estética hoje em SP


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Os limites e as superações de uma estética da vida rumo ao estado poético de Edgar Morin, mas também de Dewey, Arendt e Lyotard.

A emoção estética não nasce unicamente da admiração de uma obra de arte – “ela pode surgir também quando observamos o voar dos pássaros”, ensina o filósofo francês Edgar Morin, que pretende apresentar outros exemplos na conversa que terá nesta terça, 18, com o público.

A conversa, intitulada Estética e Arte, será realizado no Sesc Pinheiros, a partir das 20h, com transmissão ao vivo pelas páginas no Facebbok e YouTube. Nela, Morin pretende mostrar que a fruição artística não necessita necessariamente de um conhecimento prévio, mas principalmente de uma disposição para o prazer.

Assim, a grande aposta do filósofo francês é na constituição de um ‘estado poético’, na qual a fruição estética é considerada uma forma de resistência a esse poder moderno que quer nos transformar em robôs a partir das vantagens tecnológicas e do poder econômico que tenta impor o ritmo da vida.

Por isso que, contra esse esfriamento da humanidade, Morin valoriza esse estado humano da criatividade estética, que é um segundo estado em que podemos nos sentir “apaixonados, admirados, em comunhão com outras pessoas, maravilhados, transportados, transfigurados, inspirados. Algo que está no limite do místico, sem ser religioso,” afirma.

Nesse caso, esse estado criativo é algo especial para Morin, porque permite ao homem ter uma emoção particular, próxima de um transe, que afeta aqueles que se deliciam com a natureza e as artes. “Música, poesia, literatura e outras artes sempre estiveram presentes e ativas na minha vida,” contou Morin.

Complexidade da forma estética

Ele é considerado um dos grandes pensadores sobre a complexidade, nome dado a uma corrente de pensamento que privilegia estudos multidisciplinares para resolução dos problemas, 

Nessa complexidade, no que diz respeito a pedagogia, ao ensino e a aprendizagem, o filósofo francês é fiel defensor da arte de ensinar diante da ciência da educação (Leiam o excelente livro da professora Laélia Portela sobre a pergunta de que a Pedagogia é a ciência da educação), Ao falar sobre isso, chama atenção para o romance. Para ele, “um romance me oferece um conhecimento sobre a humanidade que nenhuma ciência consegue, pois apresenta relações complexas. Por isso, acredito que não é possível ensinar apenas pela ciência”, comenta ele, ciente das dificuldades atuais na área da educação.

Porém, para levar a complexidade da forma estética em seu limite, há que mencionar que a emoção estética não nasce unicamente da admiração de uma obra de arte ou da natureza. Daí que é preciso colocar em cheque tanto o estado de espirito estético do prazer pela admiração (com sua denotação passiva) quanto o conteúdo que faz emergir em nós uma emoção estética.

Com Ítaca na mente

No livro “Com Ítaca na mente: em busca dos sentidos do ensino“, analiso o percurso da estética na educação para além da admiração da arte e da natureza, para focar na questão da estética na formação ativa do indivíduo e da sociedade no espaço público e, portanto, político, seja pelo prazer, seja pela dor.

Roberto Cavallari Filho - Com Ítaca na mente

Isso implica na análise do corpo e dos sentidos no modo como eles influenciam as operações mentais na construção de conhecimento mas, principalmente, na formação ou criação de julgamentos, visões de mundo; do modelo de sujeito da ação estética, da criatividade, da expressividade e da comunicação, no gênio kantiano e no poeta cego; e do prazer na dor do sentimento estético do sublime.

Cada um desses movimentos de criação e crítica, colocados adiante por John Dewey, Hannah Arendt e Jean-François Lyotard, tem sua importância para o debate que se coloca na intersecção entre educação, estética e política, como é o caso da pesquisa que culminou neste livro.

Com informação do Estadão/Foto: Daniel Teixeira/Estadão.