A crise não é do livro! Então de quem é?

Se a crise não é do livro, então de quem é?


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Leitores, livrarias e editoras precisam fazer um pacto de amor pelo livro ou continuaremos a viver mais uma crise. Mas que tipo de pacto é esse?

#Desafiodaslivrarias

Tudo começou com as notícias de fina de 2018 anunciando severas dificuldades financeiras e falência pelas duas maiores livrarias do país, Cultura e Saraiva.

Foi nesse momento que os editores das principais empresas do mercado recorreram as suas redes sociais para lançar campanhas e manifestos em favor dos livros. A externalização da preocupação dos players foi em alto e bom tom. Nomes como Luiz Schwarcz, CEO da Companhia das Letras, escreveram cartas abertas a população questionando como manter o mercado editorial vivo e o leitor interessado em comprar livro.

Para Schwarcz seriam necessárias soluções criativas e idealistas neste momento, passando por ações de comunicação digital em redes sociais até cartas de próprio punho para buscar apoio dos parceiros do livro; as denominadas “cartas de amor aos livros”, como ele as chamou.

Por meio desses comunicados havia a esperança de se espalhar na sociedade o desejo de comprar livros:

  • livros dos seus autores preferidos,
  • de novos escritores que queiram descobrir,
  • livros comprados em livrarias que sobrevivem heroicamente a crise, cumprindo com seus compromissos, e
  • também nas livrarias que estão em dificuldades, mas que precisam de nossa ajuda para se reerguer, apontou.

Nessas “cartas de amor aos livros”, o CEO de uma gigante do mercado também incluiu a preocupação com as pequenas editoras, como é o cado da Poiesis.

“Divulguem livros com especialíssima atenção ao editor pequeno que precisa da venda imediata para continuar existindo, pensem no editor humanista que defende a diversidade, não só entre raças, gêneros, credos e ideais, mas também a diversidade entre os livros de ambição comercial discreta e os de ambição de venda mais ampla”.

Um ato nobre de humildade que mereçe todo o nosso respeito. Schwarcz foi acompanhado por Marcos da Veiga Pereira, presidente do SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros). Marcos Pereira lançou a campanha #DesafioDasLivrarias nas redes sociais. A proposta era simples: ir à uma livraria, comprar um livro, desafiar seus amigos a fazer a mesma coisa e postar nas redes sociais na expectativa de se criar um círculo virtuoso de compra e consumo de livros.

#Vempralivraria

Na esteira da carta de Schwarcz e da campanha de Marcos Pereira, recentemente acabou de surgir outra campanha nas redes sociais. O objetivo continua sendo o mesmo: incentivar as pessoas a procurarem comprar livros nas livrarias.

Os idealizadores da campanha #Vempralivraria foram Paulo Tadeu, da editora Matrix, e Pedro Queiroz, da GG. Os idealizadores pedem que as pessoas utilizem a hashtag #vempralivraria em suas redes sociais e alertam: vale para qualquer ação em qualquer rede social, desde falar sobre a crise do livro, divulgar compras de livros, dar de presente, visitar livrarias entre outras.

A busca do círculo virtuoso de compra e consumo de livros contra a crise continua.

A crise não é do livro! Se não é o que, então de quem é?

Como leitores, temos livros ótimos a nossa disposição. Isso é inegável. Novos e bons projetos editoriais, de grande e pequeno investimentos, com ambição mais discreta ou de impacto surgem diariamente. A crise não é do livro.

Fica evidente que essas campanhas não são sobre a crise da qualidade dos livros ofertados no mercado brasileiro. Se não é o que, então a crise é sobre o quem. Quem está na base provocando a crise? Pode ser da pouca leitura dos brasileiros? Sim, mas não justifica a precariedade generalizada do setor. Minha suspeita é que trata-se de uma crise contínua gerada pelo comportamento de consumo de livro dos leitores. Mas não é reduzida a isso, pois a crise é fruto de uma situação dupla.

Por um lado, está a precariedade de editoras e livrarias, grandes e pequenas (diga-se de passagem!) na gestão de seus negócios. Isso inclui problemas de limite no modo e tipos de oferta e venda de livros nos diferentes formatos, especialmente na internet; estoques; relacionamento com o cliente; diagramações sem técnicas adequadas e por ai vai. Sabemos tudo isso aqui na Poiesis por experiência.

Por outro lado, está o aberto mercado imoral (mas legal!) de fotocópias de livros, funcionando, inclusive, dentro de escolas e Instituições de Ensino Superior (IES) públicas e privadas. A renda na replicação legal de livros para uso pessoal fica única e exclusivamente com o “dono do Xerox”, que detém as “pastas das disciplinas” com as fotocópias parciais ou integrais dos nossos livros.

Assim, quando campanhas como a #Desafiodaslivrarias e a #Vempralivraria pedem uma relação de amor com o livro, elas estão por pedir uma relação de fidelidade com o livro original, seja ele um ePub, um PDF ou um livro em papel, seja o leitor comprando-o para si ou para dar de presente. Mas que o faça diretamente em uma livraria ou editora, seja uma loja física ou um website.

Assim, esse círculo virtuoso não vai acontecer simplesmente por meio de chamados nas redes sociais. Também é preciso encarar a crise do livro a partir de uma mudança ética no comportamento de compra e consumo dos leitores brasileiros. Algo no nível das campanhas contra o fumo? Talvez. Sem dúvida que deve ser focada em uma mudança de comportamento e envolver as editoras, as livrarias, os diretores de escolas e IES, professores e leitores em geral.

Ao mesmo tempo, as livrarias e editoras deverão se tornar mais atraentes do que o “dono do Xerox”. Elas também deverão buscar desenvolver novos modelos de negócios para que essa renda fique no bolso de quem de direito: livrarias, editoras e autores. Mas isso também envolveria dar espaço ao dono do Xerox.

Esse é o caminho que vislumbro para um tipo de pacto possível de ser realizado no Brasil. Um que traga o tão desejado ciclo virtuoso de compra e consumo de livros no Brasil.

Com informações da Publish News.