Leitura colaborativa na Poiesis

As cinco fases da leitura colaborativa como estratégia na alfabetização das crianças


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A leitura colaborativa é uma das várias estratégias utilizadas nas escolas da Educação Básica para incorporar a alfabetização em todos os aspectos do currículo. A abordagem justapõe a leitura compartilhada – os alunos lêem um texto juntos, guiados pelo professor – e uma leitura atenta, que faz com que os alunos trabalhem de forma independente e em pequenos grupos. Com isso, o objetivo educacional é produzir uma análise crítica de um texto.

Antes de mais nada, sua aplicação inicia-se a partir das turmas de pré-escola até os anos iniciais do Ensino Fundamental. Casos de sucesso nos EUA, como o da Escola de Ensino Fundamental Concourse Village, localizada no Bronx, em Nova York, estabelece que os alunos devem passar entre 15 a 20 minutos todos os dias em atividades de desconstrução de textos acima do seu nível de compreensão. O indicado é que o texto tenha até 150 palavras.

Assim, a abordagem divide o processo de leitura em cinco fases, através das quais os alunos são continuadamente expostos ao texto. Logo, almeja-se a sua compreensão profunda:

  1. entender a ideia principal,
  2. fazer anotações sobre o texto,
  3. identificar ideias e detalhes-chave,
  4. dissecar o ofício do autor e
  5. resumir.

Desse modo, como a leitura de um texto único e desafiador é feita ao longo de vários dias, os alunos gradualmente desenvolvem uma metodologia rica e dinâmica para decodificar materiais difíceis.

Preparando a atividade

Escolhendo um texto

Em primeiro lugar, os textos de leitura colaborativa precisam ser decididos previamente pelo(s) professor(es), de acordo com o planejamento curricular bimestral, por exemplo. Para cada bimestre, é preciso selecionar trechos de livros de ficção ou textos de não-ficção que transmitem informações.

As passagens de ficção destacam elementos literários que podem ser desafiadores, como linguagem figurativa ou temas formativos. Na pré-escola, os professores da Concourse Village escolhem poemas infantis para se concentrarem em rimas, assim como mensagens particulares, como otimismo – um valor fundamental da escola.

Os textos informativos são frequentemente textos suplementares relacionados aos outros assuntos que os alunos estão estudando. Por exemplo, pode ser difícil para os alunos do quinto ano entender como a Era dos Descobrimentos levou ao desenvolvimento do capitalismo. Por isso esses alunos precisam ser expostos a um texto suplementar sobre o assunto por meio do processo de leitura colaborativa.

Assim, no início da semana, os alunos do quinto ano recebem um folheto com o texto para a leitura colaborativa, juntamente com uma lista de palavras do vocabulário e perguntas que levam os alunos a pensar criticamente sobre o material.

Aprendizado entre pares e alunos-facilitadores

Outra etapa preparatória envolve a decisão sobre quem será o aluno-facilitador nas turmas iniciadas na leitura colaborativa, designado para cada turma e escolhido por sua fluência de leitura. Os alunos-facilitadores levam o texto escolhido pelo professor para casa alguns dias antes da atividade acontecer na sala de aula.

Fazendo a leitura prévia, esse aluno ou aluna estará mais apto para apoiar os seus colegas. Por exemplo, ele pode orientá-los a “usar evidências extras” ou perguntá-los porque escolheram uma determinada resposta à uma dúvida sobre o texto.

Na pré-escola, em vez de um único aluno-facilitador para todas as cinco fases do processo de leitura colaborativa, é preferível escolher um facilitador para cada uma das cinco fases.

“Os alunos tendem a ouvir mais quando é um dos seus pares que está realmente fornecendo apoio”, diz Raquel Linares, professora do quinto ano.

Focando na essência da atividade: fase um

Na primeira fase de desconstrução do material de leitura escolhido, os alunos realizam uma leitura do texto, pelo menos duas vezes, e colocam um ponto de interrogação ao lado de palavras que não entendem. Então, o aluno-facilitador apresenta o sentido da atividade: entender a essência do texto.

Em seguida, a professora faz a leitura do texto, lendo em voz alta e enfatizando a entoação e elocução para demonstrar aos alunos o som de uma leitura fluente. Após isso, as alunos identificam e discutem o significado das palavras desconhecidas.

Na próxima ação, a turma lê o texto em voz alta em uníssono, seguida pelo aluno-facilitador, que faz a leitura da primeira pergunta-essencial: “Qual sentença descreve melhor a idéia principal do trecho?” Depois que os alunos discutem e respondem a pergunta em pequenos grupos, eles compartilham suas respostas com a classe toda.

Com toda certeza, a oportunidade de discutir o núcleo do texto várias vezes com seus pares facilita a aprendizagem dos seguinte modo:

  • cria confiança em novos leitores,
  • expõe o fato de que todos os leitores, em algum momento, possuem dificuldades de compreensão, e
  • permite que os indivíduos obtenham conhecimento e novas perspectivas de todo o grupo.

“A minha parte favorita da leitura colaborativa é que todos nós ouvimos as ideias de outras pessoas e temos a chance de construir uma ideia maior”, diz Mia, estudante do quinto ano.

Tomando notas: fase dois

Posteriormente, o aluno-facilitador introduz o sentido da fase dois do processo de leitura: fazer anotações no texto e destacar os detalhes que apóiam a ideia principal. O objetivo principal dessa fase é que, ao fazer perguntas e destacar informações importantes, os alunos aprendem como discriminar informações cruciais das informações secundárias, promovendo uma compreensão mais profunda da língua.

Toda a turma lê novamente o texto em voz alta em uníssono – um passo que deve ser repetido em cada fase. Os alunos fazem anotações da leitura por conta própria, discutem em seu grupo e compartilham com a turma. Como resultado, ao anotar uma história fictícia, os alunos se concentram em elementos como enredo, personagem e conflito. Ao anotar textos informativos, eles olham para coisas como ilustrações e legendas.

Os alunos selecionam, entre as anotações, uma marcação principal para a semana; mas podem usar outras marcações também. Por exemplo, o foco pode estar no destaque e na discussão dos detalhes que respondem à uma pergunta crítica ou que apóiam o tema principal; os alunos marcam esses detalhes com um “D” (de “detalhes”) no material de leitura.

Vejamos as marcações utilizadas pelos alunos do segundo ao quinto ano dos anos iniciais:

  • marcar com uma estrela passagens do texto que chamam atenção às informações importantes,
  • sublinhar palavras ou frases importantes,
  • usar um arco para conectar ideias importantes no texto,
  • inserir uma interrogação nas passagens da leitura que levantarem dúvidas,
  • inserir a letra “F” para destacar os fatos trazidos pelo texto, para diferenciá-los das opiniões, e
  • anotar um “D” para destacar detalhes no texto que apoiam um tópico ou respondem a uma dúvida.
Marcações da atividade de anotação de leitura

Ademais, os símbolos usadas nas marcações de anotação do segundo ao quinto ano baseiam-se nas marcações usadas pelas turmas da pré-escola e do primeiro ano. Similarmente, para esses alunos, a anotação da leitura deve focar nas seguintes marcações:

  • inserir um interrogação quanto tiver uma dúvida,
  • desenhar uma estrela próximo as passagens importantes que o aluno sente que deve lembrá-las,
  • sublinhar as palavras ou frases importantes que ajudam o aluno a compreender o texto,
  • desenhar um “boneco de palito” próximo as passagens do texto que se relacionarem com a experiência do aluno,
  • fazer um coração nas partes favoritas do texto,
  • inserir uma exclamação para as partes interessantes da leitura do texto, e
  • marcar com a letra “F” os fatos apresentados no texto passíveis de serem comprovados com evidência.

Identificando detalhes-chave: fase três

Depois que o aluno-facilitador inicia a próxima tarefa, a fase três se concentra na identificação de detalhes e ideias importantes, alinhando-se, preferencialmente, aos padrões exigidos pelas avaliações internas e externas, como a ANA (Avaliação Nacional da Alfabetização), para o terceiro ano, e a Prova Brasil (agora chamada de ANRESC – Avaliação Nacional do Rendimento Escolar – Prova Brasil ), para os quintos e nonos anos.

Em relação ao papel da leitura colaborativa, essas avaliações exigem que os alunos comprovem o desempenho e a proficiência de leitura, e os níveis de aprendizagem em Língua Portuguesa, através de inferências, do apoio a ​​afirmações com evidência textual e capacidade de síntese (compreensão global).

Os alunos lêem o texto juntos, discutem o detalhe e a ideia principal com um olhar crítico, em grupos, e depois compartilham com a turma. As discussões diárias em grupo permitem que os alunos desenvolvam suas habilidades de comunicação e colaboração.

Na pré-escola, os alunos podem desenvolver e responder perguntas sobre o texto, enquanto que no quinto ano, os alunos podem fazer inferências com base em evidências textuais. Por exemplo, quando os alunos do quinto ano lêem um trecho de uma ficção infantil, como o Caderno de Jazmin (Jazmin’s Notebook), eles são solicitados a fazer inferências sobre o que diz a orientadora vocacional para a personagem principal do livro, a aluna Jazmin. Fazer alegações apoiadas por evidências é uma importante oportunidade para desenvolver as habilidades do pensamento crítico e da escrita.

Analisando o ofício de escritor: fase quatro

Na quarta fase, os alunos se concentram em desconstruir o ofício de autor e as suas motivações para escrever. Em grupos, os alunos analisam por que o autor em questão escolheu certas palavras, frases ou imagens e quais mensagens essas escolhas transmitem.

Alunos do quinto ano, por exemplo, são convidados a considerar como a ironia está sendo comunicada no Caderno de Jazmin, através do nome da orientadora vocacional, Lillian Wise (Lillian Sensata). Em um texto informativo, os alunos podem verificar quais informações as fotos ou infográficos transmitem para adicionar contexto ao material.

Desconstruir o processo de escrita do ponto de vista do autor ajuda os alunos a entender como a escolha de palavras, imagens, temas e estrutura das frases informam o trabalho. Concentrando-se na escolha de palavras, os alunos vêem que palavras diferentes carregam diferentes conotações que afetam o significado e o tom do texto. A discussão em grupo permite que os alunos tenham uma compreensão mais profunda do material, apoiando os colegas que podem estar com dificuldades e expondo todos os alunos a novas e diferentes perspectivas que talvez não tenham anteriormente considerado.

Resumindo e tirando conclusões: fase final

Em conclusão, a fase final mostra o sentido específico, na prática, da exigência do desenvolvimento da habilidade EF35LP03, do objeto de conhecimento “compreensão”, no eixo Leitura/Escuta da BNCC (Base Nacional Comum Curricular): “Identificar a ideia central do texto, demonstrando compreensão global”.

Cada aluno escreve um breve resumo do texto e tira conclusões. Resumir ajuda os alunos a articular sua compreensão em suas próprias palavras. Eles também tiram conclusões variadas sobre o texto, inclusive examinando as motivações do autor para a escrita, fazendo conexões pessoais com o texto ou respondendo a perguntas sobre o texto – habilidades que os alunos precisam desenvolver em todas as classes.

Por exemplo, os alunos do quinto ano leram uma passagem do Caderno de Jazmin na qual a orientadora vocacional Lillian Sensata encaminhou um aluno negro a não perseguir o plano de cursar uma Universidade, dizendo: “Uma pessoa como você seria mais feliz preparando-se para o ensino técnico-profissional no ensino médio”. Nesse momento, Jazmin força a situação e indaga a senhorita Sensata por que aquele aluno não deveria se preparar para cursar uma Universidade.

Assim os alunos também são convidados a considerar as consequências mais amplas das expectativas da senhorita Wise e a crítica de Jazmin. Portanto, a indagação da aluna na ficção serve a dois propósitos: (1) os alunos resumem o tema central e apontam para evidências textuais para apoiar suas reivindicações, e (2) consideram a importância da auto-advocacia (self-advocacy), uma habilidade que os professores da Concourse Village desejam que seus alunos desenvolvam ao partirem para a próxima fase de suas formações.

“Ler é uma habilidade para toda a vida em qualquer coisa que você faz, em qualquer lugar que você vá. É importante que nossos filhos possam ler muito bem quando saírem daqui”, diz Alexa Sorden, diretora da escola no Bronx.

Crédito: texto de Emelina Moreno, da Edutopia, traduzido e adaptado.